quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Expansão da Nossa Esfera Moral – Pt 1

Leoa dormindo


"Dor é dor, independente de ser infringida ao homem ou ao animal”.
Humphrey Primatt






São muitos os autores, não espíritas, que defendem a expansão da esfera moral. E nesse artigo, onde tento demonstrar que o espiritismo tem por dever moral ensinar essa expansão, estou me baseando num escrito de James Courrier[1], onde ele analisa essa ampliação da moralidade ao tratar de alguns autores que defendem a Vida acima de tudo ,acima mesmo de qualquer imposição religiosa.

Mas o que seria essa expansão? Nada mais do que algo que todos nós já deveríamos estar realizando dentro de uma religião que nos ensina o amor, a caridade e a benevolência para com todos os seres. Dentro de uma religião onde aprendemos que todos viemos de uma Centelha Divina , que estamos numa escala evolutiva que nos levará do átomo ao arcanjo , onde já sabemos que os animais possuem alma e que por serem Centelhas Divinas são também nossos irmãos; que reencarnam, evoluem e que estagiam no momento, num reino onde já estagiamos um dia. Essa expansão da esfera moral defende que incluamos em nossas ações morais os animais irracionais no grupo dos seres que merecem respeito, que devem receber a nossa caridade e a nossa benevolência. Cada autor aqui citado, leva em consideração algo que seja singular entre animais humanos e não-humanos; e para nós espíritas o que há de mais singular do que a alma, a reencarnação e a escalada evolutiva?

Um dos muitos autores que defendem essa expansão é Humphrey Primatt, pastor anglicano, que nos diz o seguinte:

“(...) todos os animais humanos têm o dever moral de compaixão para com os seres em sofrimento.”

Ou seja, para com esses seres que consideramos ainda inferiores, pois que já nos encontramos numa escala superior de conhecimento a deles, e o nosso conhecimento e a nossa inteligência deve livrá-los do sofrimento e não proporcionar-lhes mais dor como fazemos há anos. Primatt vai muito além da questão 723 do Livro dos Espíritos ao dizer que “os critérios éticos definidores dos seres que participam da comunidade moral não podem ser embasados na aparência exterior desses mesmos seres.”

“Aparência exterior”, e vamos notar que elegemos - além de Primatt que optou pela dor, pelo sofrimento e pela aparência exterior – nós espíritas elegemos a alma, a reencarnação, a evolução que nos são singularidades e nos tornam a todos, irmãos, sem contar que o fato de virmos todos de um só Pai já nos bastaria como singularidade.

Agora tanto a aparência material ou espiritual passam a ser irrelevantes posto que somos todos Centelhas Divinas, filhos de um mesmo Pai e porque sabemos agora que, como nos disse Emmanuel “(...) todos nós já nos debatemos no seu acanhado círculo evolutivo”, para o qual hoje nos tornamos algozes.

Quando escolhemos a dor, logo nos vem à ideia de que o sofrimento nos faz evoluir, mas já sabemos também que os animais não possuem carma, e que não precisam morrer frequentemente nas mãos dos humanos para aprenderem a dor e o medo [2]. Embora seja uma singularidade importante para ser colocada dentro do tema da expansão da esfera moral, rapidamente alguns irmãos de caminhada buscariam nos livros, nas palavras dos espíritos, que a dor é boa, que a dor fortalece, que nos faz evoluir, porém a dor para eles ultrapassa qualquer limite já que se inicia no nascimento, se estende pela vida geralmente curta, e termina no doloroso destino do abate, sem que esses seres houvessem criado um carma para si mesmos como nós, animais humanos fazemos.Temos até aqui então, como singularidades que nos permitam incluir os animais na nossa esfera moral, a dor e o sofrimento que, materialmente, são idênticos em animais humanos e não-humanos, só por esse fato também já deveríamos tê-los incluído em nossas relações de benevolência e caridade, rompendo o laço de fraqueza que nos prende a questão 723 do Livro dos Espíritos, pois a evolução é esforço constante e buscamos a evolução e não o perdão as nossas fraquezas.Se não podemos hoje, ao menos devemos considerar o fato de que as coisas vão mudar, por nós, através de nós e apesar de nós.Só devemos pensar de qual ação faremos parte.

E Primatt nos diz ainda: “A dor é intrinsecamente má, independente do ser que a sente.”

E nos causamos dor diariamente, mais em algumas datas do que em outras, porque achamos que os animais não-humanos não devam fazer parte de nossa consideração moral e ética, porque nos respaldamos numa única questão e fechamos os olhos para toda a dor pela qual esses espíritos em evolução passam. E como ao autor já disse acima, “a formação dos corpos dos seres é irrelevante”, ainda mais dentro do círculo espírita, pois sabemos que o mundo a qual estamos destinados não é o mundo material e sim o mundo espiritual, e o espírito se encontra em constante evolução. Finalizando essa primeira parte, Primatt nos coloca que “se sentir dor e sofrer não são experiências moralmente aceitas para os humanos, também não o devem ser para os animais não-humanos. Ou os seres humanos são coerentes e incluem os animais na comunidade moral ou recaem na incoerência e perversidade por excluí-los e por infringir dor e sofrimento a esses seres que não desejam sentir dor e sofrer.”

Ou seja, para a Filosofia, e vale a pena relembrarmos que o espiritismo se alicerça em três poderosos pilares que são a Ciência, a Filosofia e a Religião, os seres humanos têm como obrigação moral , ter compaixão por qualquer Ser que seja vulnerável a dor, assim como ele próprio. Não somos “diferentes” somos apenas seres “singulares”.




Simone Nardi

08/01/2010


Notas
[1] - O texto original, de onde foi baseado esse ensaio, não trata especificamente do espiritismo, por isso o intuito do artigo aqui exposto, é demonstrar que, embora não espiritualista ou propriamente religioso, os preceitos elaborados pelos autores, se identificam profundamente com os deveres morais que o espiritismo nos ensina.
[2] Milhões de animais são abatidos todos os anos para a indústria da carne, outras centenas são abatidas para o uso de couro e pele, mais de uma centena são abatidos pela caça ilegal e legalizada, um sem número de animais morrem diariamente devido ao tráfico ilegal, muitos são mortos em experimentos científicos, outros apenas para completar coleções e aperfeiçoar estudos, tudo isso apenas para demonstrar como nós humanos os tratamos com desprezo e imoralidade.



Referências Bibliográficas

KARDEC, Allan – Evangelho Segundo o Espiritismo – Editora FEB
KARDEC, Allan – Livros Dos Espíritos – Editora Feb
KARDEC, Allan – Céu e Inferno – Editora FEB
XAVIER, Chico – Emmanuel - Editora FEB
COURRIER, Jimmy – Ampliação da Comunidade Moral - Texto original em : http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/772779
SCHUTEL, Cairbar – A Gênese da Alma - Editora FEB
MARCONDES , Danilo - Textos básicos de ética - Jorge Zahar Editor



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