segunda-feira, 26 de junho de 2017

Homens de Boa Vontade

Ao final explicaremos o motivo do conto, se é que será necessário explicar . . . 




Jaguar, o belo vampiro terminou de arrumar-se e saiu. Aquela era uma noite especial para os humanos. As ruas estariam repletas deles e ele poderia alimentar-se muito bem. Correu os dedos longos e finos pela casaca e seus olhos  verdes brilharam. Aquela noite também seria especial para ele.

Em poucos minutos ele cruzava as avenidas repleta de luzes coloridas. As casas ao redor traziam a mesma alegria e as mesmas cores. Haviam renas, anões, um número incontável do velho gordo e Presépios. Sim, Jaguar adorava aquela noite cheia de vida e de sangue.

Dezenas de pessoas se acumulavam nas ruas, as crianças eram a maioria, estavam ansiosas pelos presentes que iriam encontrar no dia seguinte. O cheiro dos assados tomava conta do ar e os gritos alegres ecoavam em seus ouvidos.

Ele escolheu sua primeira vítima. Uma bela jovem que estava acompanhada de um pequeno grupo de garotos. Agora era hora de esquecer os problemas e começar a trabalhar.

Feliz Natal. – falou ele para o pequeno grupo.

Feliz Natal- responderem eles em uníssono coro.

O vampiro sentou-se e em poucos minutos já se encontrava perambulando sozinho com a garota. O ataque não demorou muito. Suas presas rasgaram a pele fina e o sangue entrou aos borbotões em sua boca, saciando sua sede. Antes que ela acabasse morrendo, Jaguar soltou-a deitando-a delicadamente no chão.

Seus olhos  brilhantes se dirigiram a outra jovem e o ataque repetiu-se sucessivamente por mais cinco, dez, doze vezes. Quando o vampiro deu por si os sinos já badalavam a meia noite.

Era natal.

Jaguar limpou os lábios e sorriu. Doze vítimas numa única noite, estava melhorando a cada ano. Entrou no carro e partiu ouvindo os fogos que explodiam e coloriam o céu num festival belíssimo.

Precisamente as duas da manhã, ele parou o carro defronte a um enorme prédio que se encontrava praticamente abandonado. Algumas luzes indicavam que havia vida lá dentro, mas as sombras tomavam conta da maioria das janelas.

Ele entrou e galgou os longos corredores cortando o silêncio frio com suas pesadas botas de couro vegano. Com os olhos atentos ele procurou por um rosto e sorriu ao encontrá-lo.

Uma velha senhora se achava sentada por detrás de uma mesa lendo um anuário, totalmente alheia a algazarra das ruas. Os óculos de leitura descansavam sobre o nariz pequeno e delicado e o rosto enrugado formou um belo sorriso ao vê-lo.

Eu sabia que viria.- falou ela levantando-se.

Jaguar acompanhou-a e deitou-se onde ela lhe ordenou, sentia-se infinitamente bem ao lado daquela mulher.

Feliz Natal- falou ele para ela.

Feliz Natal – respondeu a velha com um sorriso.

Jaguar sentiu uma leve pontada e tornou a sorrir vendo a pequena bolsa se encher de sangue.

Você não...

Não, Clara. Não matei nenhum dos doze, apenas tomei-lhes o sangue para trazer até aqui. Já devem ter acordado para comemorar o Natal.

Sabe que a doação é um ato de amor?

Há cinco anos, desde que a encontrei.

A enfermeira sorriu vendo o sangue rubro enchendo a pequena bolsa de doação. Há cinco anos que aquele entranho ser seguia aquela rotina. Tomava o sangue dos humanos na véspera de Natal depois vinha até ela para que retirasse as bolsas de sangue para doação. Segundo ele,  fazia apenas  a bondade que os humanos esqueciam de praticar no dia de Natal.

Terminado o trabalho, ambos se despediram e Jaguar sorriu entregando um broche de ouro para a velha que agradeceu entregando-lhe um relógio de bolso. Depois Jaguar partiu  porém, antes de entrar no carro, elevou seus olhos ao céu e sorriu enquanto dizia.

— Feliz Natal aos seres de  Boa vontade.


Simone Nardi08/11/03



OBS:


Por volta do ano 2000 conheci um grupo de escritores muitíssimo interessante o "Tinta Rubra", era um grupo de escritores amadores que se atinham a temas fantásticos como bruxas, lobisomens, vampiros, entre outros contos considerados de terror. Eram tão criativos que tudo era motivo para lançar um desafio:festas, comemorações nunca passavam em branco naquele grupo.Este conto fez parte de um dos muitos desafios que era fazer conto de terror ligado a algum assunto, por estarmos próximo do fim do Ano o tema seria o Natal, e como falar de morte quando o Natal deveria trazer tanta vida?

A redenção de um ser das trevas.

A ideia da doação de sangue surgiu daí, dar um pouco de vida Aquele que a vida nos Deus: Jesus.

Junho Vermelho pode ter passado, mas como no conto acima, todas os dias são dias de distribuir vida.




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