quarta-feira, 26 de abril de 2017

O Vegetarianismo e o Movimento Hare Krsna

adaptado da obra The Hare Krsna Book of Vegetarian Cooking
Bhakti-yoga, a ciência da devoção a Krsna, ou Deus, é fielmente mantida por uma sucessão ininterrupta de mestres e discípulos ao longo das eras tendo em vista a saúde espiritual da humanidade. A cultura védica considera a pessoa que acata os caprichos do corpo e da mente, negligenciando as necessidades da alma, como sendo uma pessoa infectada pela doença do materialismo. Assim como um médico prescreve um medicamento e uma dieta especial para o doente que o busca, os sábios da antiga Índia recomendam o cantar dos santos nomes de Krsna como o medicamento para a doença materialista, e a prasada, o alimento santificado ao ser oferecido a Krsna mediante orações, como a dieta. As escrituras védicas predizem que esse remédio para o sofrimento humano chegará a toda vila e cidade do mundo.
Ansioso por apressar a concretização dessa predição, Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, seguindo os passos de seus grandes predecessores espirituais, dedicou sua vida a difundir a consciência de Krsna. Em 1965, ele deixou a Índia, rumo aos Estados Unidos, a fim de introduzir a consciência de Krsna aos ocidentais, tal como seu mestre espiritual, Sua Divina Graça Bhaktisiddhanta Sarasvati, solicitara-lhe ainda jovem. Srila Prabhupada mostrou-se intrépido diante de sua idade avançada e dos outros obstáculos que se colocaram em seu caminho. Confiando inteiramente na misericórdia do Senhor Krsna, ele iniciou o que se tornaria um movimento mundial na forma da Sociedade Internacional para a Consciência de Krsna (ISKCON). Entre 1965, quando Srila Prabhupada foi para os Estados Unidos, e 1977, quando deixou este mundo, ele transmitiu a inteireza da vida espiritual através de suas palestras, cartas, livros e gravações, bem como através de seu exemplo pessoal. Estabeleceu mais de cem templos, traduziu quase oitenta volumes de literatura transcendental, e iniciou quase cinco mil discípulos.
Srila Prabhupada era motivado por um sentimento de urgência, pois ele podia ver que o mundo precisava da grande cultura espiritual da Índia, a qual estava desaparecendo rapidamente. Na Índia, ele via que os líderes que não tinham nem fé nos ensinamentos védicos nem conhecimento de como aplicá-los estavam tentando solucionar problemas essencialmente espirituais por meio de soluções materiais. Ele viu a geração jovem da Índia dando as costas para sua sublime herança espiritual em favor do materialismo ocidental, ao mesmo tempo em que muitos no Ocidente, desiludidos com o materialismo, estavam buscando por uma nova vida com um conjunto de valores de nível mais elevado.
Srila Prabhupada estava bastante ciente dos problemas tanto da Índia como do Ocidente, e ofereceu uma solução sensata. Ele comparou a Índia, que ainda tinha alguma visão espiritual porém carecia da tecnologia muito difundida por todo o mundo, a um homem aleijado; e comparou os países ocidentais, que se sobressaíam na esfera tecnológica porém eram destituídos de visão espiritual, a um homem cego. Se o aleijado que enxerga se sentar sobre os ombros do cego que consegue andar, eles se tornam como um homem que enxerga e caminha. A Sociedade Internacional para a Consciência de Krsna é esse homem que goza tanto de saudável visão como do poder de se locomover, utilizando o melhor da Índia e o melhor do Ocidente de maneira a difundir o conhecimento consciente de Krsna por todo o mundo e revivê-lo na Índia.
A consciência de Krsna, Srila Prabhupada dizia frequentemente, não é algo árido, e a prasada é um dos elementos que provam essa afirmação. Ele mostrou a seus discípulos como cozinhar muitos tipos de pratos vegetarianos, como oferecê-los a Krsna, o Senhor Supremo, e como saborear o alimento santificado como a misericórdia de Krsna. Srila Prabhupada sempre ficava contente vendo seus discípulos comendo unicamente a prasada de Krsna. Por muitas vezes, ele pessoalmente cozinhou prasada e serviu seus discípulos com suas próprias mãos.
No volume dois de sua obra O Néctar de Prabhupada, Sua Santidade Satsvarupa dasa Gosvami descreve a disposição na qual Srila Prabhupada distribuía prasada: “Ele gostava de dar prasada com suas próprias mãos, e todos gostavam de receber. Não era apenas comida, mas as bênçãos debhakti, a essência do serviço devocional. Srila Prabhupada distribuía prasada feliz, tranquilo e sem discriminação. Quando ele dava às crianças, elas gostavam do sabor adocicado, na forma de biscoitos ou docinhos, porém elas também gostavam disso como uma brincadeira especial com Prabhupada, que se sentava em seu assento de destaque e se curvava para frente para presentear as crianças. As mulheres gostavam do evento, pois era uma rara chance que tinham de chegar próximas de Prabhupada e estender a mão em sua direção. Elas se sentiam satisfeitas com a casta proximidade. E homens robustos iam à frente como crianças ansiosas, algumas vezes se empurrando uns aos outros apenas para receberem a misericórdia de Prabhupada. A Prabhupada, aquilo era sério e importante, e ele supervisionava pessoalmente que sempre houvesse uma grande bandeja sempre pronta para ele distribuir… Embora hoje a distribuição de prasada no Movimento da Consciência de Krsna tenha se tornado algo de grande escala, como desejou Prabhupada, tudo isso começou de suas próprias mãos, quando ele entregava afetuosamente a prasada às pessoas uma a uma”.
Srila Prabhupada ensinou que dar prasada a outros é uma importante parte do estilo de vida consciente de Krsna. Um movimento espiritual é inútil sem distribuição gratuita de alimentos santificados, Srila Prabhupada dizia. Ele queria que a distribuição gratuita de prasada fosse parte de toda festividade Hare Krsna. Com efeito, devido à completa fé na potência espiritual da prasada em elevar a humanidade à consciência de Deus, Srila Prabhupada queria que o mundo inteiro experimentasse essa categoria ímpar de alimento.
Foto: Indayara Moyano
As portas estão abertas ao público todos os dias em todos os nossos mais de trezentos templos, mais de cinquenta comunidades rurais e incontáveis centros culturais espalhados pelo mundo, onde todos podem saborear gratuitamente a prasada de Krsna. Especialmente aos domingos, todo centro convida o público para um suntuoso “banquete do amor”, um programa que Srila Prabhupada iniciou em 1966 no primeiro templo ocidental, no Lower East Side da cidade de Nova Iorque, que conta com canto de mantras devocionais, palestra introdutória sobre a filosofia védica e, é claro, prasada. Vários centros também possuem variados festivais públicos anuais, como o Ratha-yatra, o Festival dos Carros, possivelmente o festival religioso mais antigo do mundo. E, em cada festival como esse, dezenas de milhares de pessoas veem a bela forma de Krsna e comem Sua prasada.
Em 1979, alguns devotos na América do Norte criaram o “Festival da Índia”, um programa cultural itinerante que percorre diferentes países, como os Estados Unidos, Canadá, Polônia e Brasil. Em teatros ou tendas em praças públicas, centenas e milhares de pessoas conhecem a cultura védica, como foi apresentada ao Ocidente por Srila Prabhupada, por meio de teatro, dança, música, exibição de dioramas, literatura védica e, mais uma vez, prasada.
O movimento Hare Krsna também possui restaurantes nas maiores cidades do mundo, como em Londres, Paris, Milão, Los Angeles, Dallas, Sydney e São Paulo. Entre outros fins, tais restaurantes foram idealizados por Srila Prabhupada como uma opção de renda para os devotos de Krsna que optam pela vida de chefes de família, em contraste à posição de monges celibatários. Tanto quanto possível, os restaurantes se valem de ingredientes cultivados nas fazendas administradas pelos devotos de Krsna. Os devotos também oferecem frequentemente cursos de culinária centrados na preparação de prasada. Na Inglaterra, Estados Unidos, Austrália e gradualmente em outros países, o Clube Vegetariano Hare Krsna, presente nos campi das mais importantes universidades do mundo, fornece uma alternativa humana à alimentação dependente de fazendas-fábricas e abatedouros. Uma vez familiarizada com a filosofia consciente de Krsna, que engloba todas as esferas de argumentos em favor do vegetarianismo – e vai além, apresentando argumentos espirituais lúcidos –, considerável parte das pessoas que participa desses clubes adota resolutamente o vegetarianismo em seu dia-a-dia.
Outro programa de distribuição de prasada foi iniciado em 1973, quando Srila Prabhupada um dia olhou pela janela de seu quarto em Sri Mayapur, Índia, e viu uma mocinha procurando por comida em uma pilha de lixo. Naquele momento, ele decidiu que ninguém dentro de um raio de dez quilômetros do templo Hare Krsna de Sri Mayapur deveria passar fome, o que ele informou aos seus discípulos. Poucos dias depois, olhando pela mesma janela, Srila Prabhupada ficou feliz em ver seus discípulos distribuindo prasada para centenas de residentes locais, os quais se sentaram em longas fileiras comendo alegremente em pratos de folha de bananeira. “Continuem para sempre com essa atividade”, Srila Prabhupada disse a seus discípulos. “Sempre distribuam prasada”. Esse foi o nascimento do programa ISKCON Food Relief, que hoje distribui mais de cem mil refeições semanalmente, especialmente na Índia, Bangladesh e África.
Foto: Projeto Alimentos para a Vida de Campina Grande – PB
Um projeto similar, o Hare Krsna Alimentos para a Vida, distribui mais de quarenta mil pratos deprasada diariamente, tanto para pessoas necessitadas como para apreciadores casuais, o que também favorece a dessegregação social. O Movimento Hare Krsna é um dos principais promotores mundiais da dieta vegetariana em grande escala como solução para o problema da fome no mundo, e, para aliviar os efeitos imediatos da fome, os devotos de Krsna fornecem alimentos a vítimas de desastre, desabrigados, desempregados e outros em situações similares através deste programa Alimentos para a Vida. Trabalhando em cooperação com os órgãos competentes locais em diferentes países, o Alimentos para a Vida é frequentemente auxiliado por doações governamentais de artigos alimentícios produzidos em excesso e por diferentes tipos de isenções.
Tais programas, no entanto, fornecem mais do que comida. Srila Prabhupada enfatizava que simplesmente alimentar os famintos não é suficiente. Ele considerava ser falsa caridade dar alimento a alguém a menos que ele seja prasada, pois apenas esse alimento livra o indivíduo de complicações cármicas.
Assim, não é surpreendente que o Movimento Hare Krsna seja por vezes chamado de “A Religião da Culinária”, o movimento que combina filosofia com boa comida. Embora sempre haverá muitos que talvez não aceitem a filosofia, dificilmente há alguém que rejeite a comida. Com efeito, mais de quarenta milhões de pessoas saboreiam anualmente o alimento oferecido à Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Sri Krsna.
Ansiamos pelo dia em que ilimitada quantia de prasada será distribuída por todo o mundo e as pessoas em todo lugar oferecerão seu alimento a Deus. Tal revolução neste mais universal dos rituais humanos – o comer – certamente curará a doença materialista da humanidade.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

UMBANDA E OS ANIMAIS



“É incompatível ceifar uma vida e ao mesmo tempo fazer a caridade, que é a essência do praticar amoroso que norteia a Umbanda do Espaço.” - Ramatís-Norberto Peixoto

            A Umbanda não sacrifica animais! Essa é uma das “máximas” da Umbanda. Inclusive está “no conceito básico dos fundamentos da FUCESP” (Federação de Umbanda e Candomblé do estado de São Paulo) - http://www.fucesp.com.br/historia-da-umanda/o-n%C3%A3o-sacrificio/.

            Mesmo assim no subconsciente coletivo a ideia de associar a Umbanda à “Macumba” e essa ao sacrifício de animais e outros atos execráveis persiste na cabeça das pessoas.

            Historicamente, a palavra macumba tem origem angolana. Do quimbundo  ma(o que assusta) e Kumba(soar assustadoramente). Portanto, deriva daí o primeiro significado dado a essa palavra, que na realidade era um instrumento musical de percussão, tipo um reco-reco, de origem africana, sendo que a princípio, macumbeiro era o tocador desse instrumento. No início do século XX como esse instrumento era tocado nas cerimônias de algumas religiões afro-brasileiras, passou-se a denominá-las popularmente de macumbas. (Fonte: www.significadosbr.com.br )

            Na realidade e no pensamento geral; macumba acabou tornando-se sinônimo de “oferenda”, “trabalho feito”, “demanda”, etc...

            Resumindo; “macumba seria uma oferenda, geralmente de algum animal morto, para que um Espirito execute um trabalho para o pedinte”. Essa oferenda serviria tanto para reverenciar quanto para dar meios fluídicos para a execução da tarefa, cujo o objetivo quase sempre seria negativo para a pessoa afetada ou que foi direcionado o trabalho. Isso hoje e em todos os tempos foi conhecido como feitiçaria!
Se formos avaliar, muito antes da Umbanda existir aqui no Brasil, já existe relatos de vários casos de bruxarias onde se oferecem sangue e vísceras de animais mortos em troca de favores. Desde Circe nos contos mitológicos gregos passando pelo O asno de ouro”, romance de Lúcio Apuleio escrito no século II d.C até as feitiçarias dos filmes de Harry Porter, a bruxaria vem assombrando o inconsciente coletivo de todas as épocas.




E a “macumba” é isso; bruxaria, feitiçaria, e não está vinculada à Umbanda ou mesmo a outra religião seja de origem africana ou qualquer outra. Seria um desrespeito à individualidade de qualquer pessoa uma religião que fizesse “amarração” e se unisse duas pessoas por “capricho e desejo” em vez de amor.
Religião vem do latim ¨religare¨, tem o siginificado de religação. Essa religação se refere entre uma nova ligação entre o homem e Deus. Seria incoerente imaginar uma religião que buscasse a “religação do homem com Deus” através do desrespeito à individualidade de cada um, ou pior, que estimulasse ações de maldade a outros seres vivos, seja em relação ao morto para ser ofertado, quanto o atingido por esse ato.
           
“A umbanda não adota sacrifícios de animais. A UMBANDA NÃO RECORRE AOS SACRIFÍCIOS DE ANIMAIS para assentamento de orixás..., pois recorre às oferendas de flores, frutos, alimentos e velas quando as reverencia. A fé é o principal fundamento religioso da Umbanda e suas práticas ofertórias ISENTAS DE SACRIFÍCIOS DE ANIMAIS são uma reverencia aos orixás e aos guias espirituais, recomendando-as aos seus fiéis, pois são mecanismos estimuladores do respeito e da união religiosa com as divindades e os espíritos da natureza ou que se servem dela para auxiliarem os encarnados.” - Rubens Saraceni.

Procurando mudar essa ideia errônea que está enraizada nas mentes das pessoas o movimento Umbandista está cada vez mais demonstrado que se importa com os animais. Já existem vários terreiros em que os animais são bem recebidos e são tratados com o respeito que lhes é devido.
Nesses terreiros um dia é reservado especialmente para eles, onde são atendidos por entidades incorporada e recebem através do passe energias de refazimento e cura. E muitas vezes seus tutores recebem conselhos e orientação para que os animais tenham uma condição de vida melhor e toda a família fique bem.

“No Brasil, já tínhamos cemitério de animais, mas nunca um terreiro que não os sacrifica em seus rituais, mas sim, os cura e os limpa de mazelas adquiridas de seus donos, e os quer bem vivos e saltitantes alegrando mais a vida e os dias de cão que seus papais e mamães adotivos enfrentam. A Umbanda Pés no chão, como é conhecida no Terreiro do Pai Maneco, sempre teve a preocupação no bem-estar de todos, sejam seres humanos, animais e o meio ambiente. Dos caboclos, pretos-velhos e eres terão amor, carinho, atenção, tratamento espiritual, cirurgias, passes, descarrego e até biscoitinhos de brinde ao final da sessão. Isso é o que donos e seus pets vão encontrar no terreiro, além da diversidade e da oportunidade de socialização entre donos e seus filhotes.” - João Emerson da Costa – Terreiro do Pai Maneco  - http://www.paimaneco.org.br

Além de tratar os animais, muitos centros e terreiros estão fazendo um trabalho de orientação e conhecimento sobre a “espiritualidade dos animais”. Através de cursos, palestras e workshops estudos sobre as almas dos animais são compartilhados e discutidos. Varias situações são esclarecidas: o desencarne dos animais, suas doenças e seu papel na evolução de nosso universo são melhores compreendidos, provocando uma reflexão sobre nosso papel como tutores e guias de nossos irmãos menores.




“Anjos de Luz do Templo de Umbanda Caridade é Amor, surgiu através de um grupo de amigos que trabalham nesse lindo centro, que amam e respeitam a vida animal. Acreditamos que todos os espíritos em evolução necessitam de ajuda espiritual e material.” - Tels: (11)98236-5407 - Endereço do templo:Av. Mutinga, 3377 – Pirituba - http://anjosdeluztuca.blogspot.com.br/

Tudo isso leva a uma nova reflexão da relação do homem com os animais. São as trombetas anunciando que chega de nós “fazermos de vitimas” e continuarmos na “birra” infantil que nos encontramos. É chegada a hora de assumirmos a postura de adultos e seguirmos os exemplos das entidades da Umbanda que voltam seus olhos em auxilio daqueles que ainda se encontram em um degrau evolutivo menor. E o trabalho não para por aí. Já existe parcerias entre terreiros e Ongs que ajudam animais e a tendência é cada vez esse contato ir se ampliando!
Sejamos como os Pai Velhos que aconselham e guiam seus afilhados em sua evolução, tomemos o papel de verdadeiros tutores dos animais.
 “O caminho da evolução acolhe a todos e se há uma escada, todos os seus degraus são importantes...”.Umbanda Proto-Síntese Cósmica - F. RIVAS NETO 






Autor: M. Veterinário Ricardo Luiz Capuano -









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quarta-feira, 12 de abril de 2017

Dos Três reinos

Rosto: meio chimpanzé meio homem

II – Os Animais e o Homem

       592. Se comparamos o homem e os animais em relação à inteligência,  parece difícil estabelecer a linha de demarcação, porque certos animais têm, nesse terreno, notória superioridade sobre certos homens. Essa linha de  demarcação pode ser estabelecida de maneira precisa?
       — Sobre esses assuntos os vossos filósofos não estão muito de acordo. Uns querem que o homem seja um animal, e outros que o animal seja um  homem. Estão todos errados. O homem é um ser à parte, que desce, às vezes, muito baixo ou que pode elevar-se muito alto. No físico, o homem é como os animais e menos bem provido que muitos dentre eles; a Natureza lhes deu tudo aquilo que o homem é obrigado a inventar com a sua inteligência para prover às suas necessidades e à sua conservação. Seu corpo se destrói como o dos animais, isto é certo, mas o seu Espírito tem um destino que só ele pode  compreender, porque só ele é completamente livre. Pobres homens, que vos rebaixais mais do que os brutos! Não sabeis distinguir-vos deles? Reconhecei o homem pelo pensamento de Deus.
      593. Podemos dizer que os animais só agem por instinto?
      —Ainda nisso há um sistema. É bem verdade que o instinto domina na maioria dos animais; mas não vês que há os que agem por uma vontade determinada? E que têm inteligência, mas ela é limitada.
 Comentário de Kardec:  Além do instinto, não se poderia negar a certos animais a prática de atos combinados que denotam a vontade de agir num sentido determinado e de acordo com as circunstâncias. Há neles, portanto, uma espécie de inteligência mas cujo exercício é mais precisamente concentrado sobre os meios de satisfazer às suas necessidades físicas e proverá sua conservação. Não há entre eles nenhuma criação nenhum melhoramento; qualquer que seja a arte que admiramos em seus trabalhos, aquilo que faziam antigamente é o mesmo que fazem hoje, nem melhor nem pior segundo formas e proposições constantes e invariáveis. Os filhotes separados de sua espécie não deixam de construir o seu ninho de acordo com o mesmo modelo sem terem sido ensinados. Se alguns são suscetíveis de uma certa educação, esse desenvolvimento intelectual, sempre fechado em estreitos limites, é devido à ação do homem sobre uma natureza flexível, pois não fazem nenhum progresso por si mesmos, e esse progresso é efêmero, puramente individual, porque o animal, abandonado a si próprio,  não tarda a voltar aos  limites traçados pela  Natureza.
     594. Os animais têm linguagem?
     — Se pensais numa linguagem formada de palavras e de sílabas, não; mas num meio de se comunicarem entre si, então, sim. Eles se dizem muito mais coisas do que supondes, mas a sua linguagem é limitada, como as próprias idéias, às suas necessidades.
     594 – a) Há animais que não possuem voz; esses não parecem destituídos de linguagem?
     — Compreendem-se por outros meios. Vós, homens, não tendes mais do que a palavra para vos comunicardes? E dos mudos, que dizeis? Os animais, sendo dotados da vida de relação, têm meios de se prevenir e de exprimir as sensações que experimentam. Pensas que os peixes não se entendem? O homem não tem o privilégio da linguagem, mas a dos animais é instintiva e limitada pelo círculo exclusivo das suas necessidades e das suas idéias, enquanto a do homem é perfectível e se presta a todas as concepções da sua inteligência.
Comentário de Kardec: Realmente, os peixes que emigram em massa, bem como as andorinhas, que obedecem ao guia, devem ter meios de se advertir de se entender e de se combinar. Talvez o façam entre si, ou talvez a água seja um veículo que lhes transmita certas vibrações. Seja o que for, é incontestável que eles dispõem de meios para se entenderem, da mesma maneira que todos os animais privados de voz e que realizam trabalhos em comum. Deve-se admirar, diante disso, que os Espíritos possam comunicar-se entre eles sem o recurso da palavra articulada? (Ver item 282.)
     595. Os animais têm livre-arbítrio?
                Não são simples máquinas, como supondes (1)mas sua liberdade de ação é limitada pelas suas necessidades, e não pode ser comparada à do homem. Sendo muito inferiores a este, não têm os mesmos deveres. Sua liberdade é restrita aos atos da vida material.
     596. De onde vem a aptidão de certos animais para imitar a linguagemdo homem, e por que essa aptidão se encontra mais entre as aves do que entre  os símios, por exemplo, cuja conformação tem mais analogia com a humana?
       — Conformação particular dos órgãos vocais, secundada pelo instinto da imitação. O símio imita os gestos; certos pássaros imitam a voz.     
       597. Pois se os animais têm uma inteligência que lhes dá uma certa liberdade de ação, há neles um princípio independente da matéria?
       — Sim, e que sobrevive ao corpo.
       597 – a) Esse princípio é uma alma semelhante à do homem?
       — É também uma alma, se o quiserdes: isso depende do sentido em que se tome a palavra; mas é inferior à do homem. Há, entre a alma dos animais e a do homem, tanta distância quanto entre a alma do homem e Deus.
       598. A alma dos animais conserva após a morte sua individualidade e a consciência de si mesma?
      — Sua individualidade, sim, mas não a consciência de si mesma. A vida inteligente permanece em estado latente.
      599. A alma dos animais pode escolher a espécie em que prefira encarnar-se?
      — Não; ela não tem o livre-arbítrio.
      600. A alma do animal, sobrevivendo ao corpo, fica num estado errante como a do homem após a morte?
      — Fica numa espécie de erraticidade, pois não está unida a um corpo.
 Mas não é um Espírito errante. O Espírito errante é um ser que pensa e age por sua livre vontade; o dos animais não tem a mesma faculdade. É a consciência de si mesmo que constitui o atributo principal do Espírito. O Espírito do animal é classificado, após a morte, pelos Espíritos incumbidos disso e utilizado quase imediatamente; não dispõe de tempo para se pôr em relação com outras criaturas.
      601. Os animais seguem uma lei progressiva como os homens?
      — Sim, e é por isso que nos mundos superiores onde os homens são mais adiantados, os animais também o são, dispondo de meios de comunicação mais desenvolvidos. São, porém, sempre inferiores e submetidos aos homens, sendo, para estes, servidores inteligentes.
      Nada há nisso de extraordinário. Suponhamos os nossos animais de maior inteligência, como o cão, o elefante, o cavalo, dotados de uma conformação apropriada aos trabalhos manuais. O que não poderiam fazer sob a direção do homem?                 
    602. Os animais progridem, como o homem, por sua própria vontade, ou pela força das coisas?
    — Pela força das coisas; e é por isso que, para eles, não existe expiação.
     603. Nos mundos superiores, os animais conhecem a Deus?
     — Não. O homem é um deus para eles, como antigamente os Espíritos foram deuses para os homens.
     604. Os animais, mesmo aperfeiçoados nos mundos superiores, sendo sempre interiores aos homens, disso resultaria que Deus tivesse criado seres intelectuais perpetuamente votados à inferioridade, o que parece em desacordo com a unidade de vistas e de progresso que se assinalam em todas as suas obras?
     — Tudo se encadeia na Natureza por liames que não podeis ainda perceber, e as coisas aparentemente mais disparatadas têm pontos de contato que o homem jamais chegará a compreender no seu estado atual. Pode entrevê-los por um esforço de sua inteligência, mas somente quando essa inteligência tiver atingido todo o seu desenvolvimento e se libertado dos prejuízos do orgulho e da ignorância poderá ver claramente na obra de Deus. Até lá suas idéias limitadas lhe faraó ver as coisas de um ponto de vista mesquinho. Sabei que Deus não pode contradizer-se e que tudo, na Natureza, se harmoniza através de leis gerais que jamais se afastam da sublime sabedoria do Criador.
     604 – a) A inteligência é, assim, uma propriedade comum, um ponto de encontro entre a alma dos animais e a do homem?
     — Sim, mas os animais não têm senão a inteligência da vida material; nos homens, a inteligência produz a vida moral.
     605. Se considerarmos todos os pontos de contato existentes entre o homem e os animais, não poderíamos pensar que o homem possui duas almas: a alma animal e a alma espírita e que, se ele não tivesse esta última, poderia viver só como os animais? Dizendo de outra maneira: o animal é um ser semelhante ao homem, menos a alma espírita? Disso resultaria que os bons e os maus instintos do homem seriam o efeito da predominância de uma ou outra dessas duas almas?
      — Não, o homem não tem duas almas, mas o corpo tem os seus instintos, que resultam da sensação dos órgãos. Não há no homem senão uma dupla natureza: a natureza animal e a espiritual. Pelo seu corpo, ele participa da natureza dos animais e dos seus instintos; pela sua alma, participa da natureza dos Espíritos.
       605 – a) Assim, alem das suas próprias imperfeições, de que o Espírito  deve despojar-se, deve ele lutar contra a influência da matéria?
       — Sim, quanto mais inferior é ele, mais apertados são os laços entre o Espírito e a matéria. Não o vedes? Não, o homem não tem. duas almas; a  alma é sempre única, um ser único. A alma do animal e a do homem são distintas entre si, de tal maneira que a de um não pode animar o corpo criado para o outro. Mas se o homem não possui uma alma animal, que por suas paixões o coloque no nível dos animais, tem o seu corpo que o rebaixa freqüentemente a esse nível, porque o seu corpo é um ser dotado de vitalidade, que tem instintos, mas ininteligentes e limitados ao interesse de sua conservação(1)
 Comentário de Kardec: O Espírito, encarnando-se no corpo do homem, transmite-lhe o principio intelectual e moral que o torna superior aos animais. As duas naturezas existentes no homem oferecem ás suas paixões duas fontes diversas: umas provêm dos instintos da natureza, outras das impurezas do Espírito encarnado, que simpatiza em maior ou menor proporção com a grosseria dos apetites animais. O Espírito, ao se purificar, liberta-se pouco a pouco da influência da matéria. Sob essa influência, ele se aproxima dos brutos; liberto dessa influência, eleva-se ao seu verdadeiro destino.
       606. De onde tiram os animais o princípio inteligente que constitui a espécie particular de alma de que são dotados?
      — Do elemento inteligente universal.
      606 – a) A inteligência do homem e a dos animais emanam, portanto, de um princípio único?
      — Sem nenhuma dúvida; mas no homem ela passou por uma elaboração que a eleva sobre a dos brutos.
      607. Ficou dito que a alma do homem, em sua origem, assemelha-se ao estado de infância da vida corpórea, que a sua inteligência apenas desponta e que ela ensaia para a vida.  Onde cumpre o Espírito essa primeira fase?
      — Numa série de existências que precedem o período que chamais de Humanidade.
      607. A) Parece, assim, que a alma teria sido o princípio inteligente dos seres inferiores da criação?
      — Não dissemos que tudo se encadeia na Natureza e tende à unidade?               
É nesses seres, que estais longe de conhecer inteiramente, que o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco e ensaia para a vida, como dissemos. É, de certa maneira, um trabalho preparatório, como o de germinação, em seguida ao qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito. É então que começa para ele o período de humanidade, e com este a consciência do seu futuro, a distinção do berne do mal e a responsabilidade dos seus atos. Corno depois do período da infância vem o da adolescência, depois a juventude, e por fim a idade madura. Nada há de resto, nessa origem, que deva humilhar o homem. Os grandes gênios sentem-se humilhados por terem sido fetos informes no ventre materno? Se alguma coisa deve humilhá-los é a sua inferioridade perante Deus e sua impotência para sondar a profundeza de seus desígnios e a sabedoria das leis que regulam a harmonia do Universo. Reconhecei a grandeza de Deus nessa admirável harmonia que faz a solidariedade de todas as coisas na Natureza. Crer que Deus pudesse ter feito qualquer coisa sem objetivo e criar seres inteligentes sem futuro seria blasfemar contra a sua bondade, que se estende sobre todas as suas criaturas.
     607 – b) Esse período de humanidade começa sobre a nossa Terra?
     – A Terra não é o ponto de partida da primeira encarnação humana. O período de humanidade começa, em geral, nos mundos ainda mais inferiores. Essa, entretanto, não é uma regra absoluta e poderia acontecer que um Espírito, desde o seu início humano, esteja apto a viver na Terra. Esse caso não é freqüente e seria antes uma exceção.
      608.0 Espírito do homem, após a morte, tem consciência das existências que precederam, para ele, o período de humanidade?
      – Não, porque não é senão desse período que começa para ele a vida de Espírito, e é mesmo difícil que se lembre de suas primeiras existências como homem, exatamente como o homem não se lembra mais dos primeiros tempos de sua infância, e ainda menos do tempo que passou no ventre materno. Eis porque os Espíritos vos dizem que não sabem como começaram. 
      609. O Espírito, tendo entrado no período da humanidade, conserva os traços do que havia sido precedentemente, ou seja, do estado em que se encontrava no período que se poderia chamar anti-humano?
      – Isso depende da distância que separa os dois períodos e do progresso realizado. Durante algumas gerações, ele pode conservar um reflexo mais ou menos pronunciado do estado primitivo, porque nada na Natureza se faz por transição brusca; há sempre anéis que ligam as extremidades da cadeia do  seres e dos acontecimentos. Mas esses traços desaparecem com o desenvolvimento do livre-arbítrio. Os primeiros progressos se realçam lentamente, porque não são ainda secundados pela vontade, mas seguem uma progressão mais rápida à medida que o Espírito adquire consciência mais perfeita de si mesmo.
       610. Os Espíritos que disseram que o homem é um ser à parte na ordem da criação enganaram-se, então?
                     Não, mas a questão não havia sido desenvolvida e há coisas que não podem vir senão a seu tempo. O homem é, de fato, um ser à parte porque tem faculdades que o distinguem de todos os outros e tem outro destino A espécie humana é a que Deus escolheu para a encarnação dos seres que o podem conhecer.