quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Filosofia e a Questão dos Direitos Animais (Estudo).Parte 1









INTRODUÇÃO



Por que preservar o Meio Ambiente? É preciso preservar o meio ambiente porque na terra não habitam apenas os seres humanos. Nela vivem, desde microorganismos, vírus, bactérias, fungos, até os solos, rochas, as águas, a atmosfera, os vegetais e os animais. E todos desejam continuar existindo. [...]. Na verdade todos os seres vivem uns pelos outros, com os outros, e para os outros. 

Leonardo Boff



“Na verdade todos os seres vivem uns pelos outros, com os outros, e para os outros”, nessa única frase podemos colocar a ideia de como deveríamos agir na busca pela harmonia planetária: Coexistir. Somos uma espécie que não se importa com os demais habitantes desse planeta, como se não estivéssemos entrelaçados com suas vidas e com o futuro que construímos tanto para nós quanto para eles. No entanto, irracionalmente nós separamos o que desejamos salvar daquilo com o qual não nos importamos muito. Plantamos milhões de árvores como se fossem elas, a única solução para “nossos” problemas e as plantamos na exata medida com que matamos animais para nos alimentar. Fechamos as águas de nossas torneiras, deixamos de lavar a calçada ou de dar descarga nos banheiros, na exata medida em que abrimos uma torneira gigante que ocultamos de nossos olhos, e que consome uma quantidade absurda de água só para que tenhamos o hábito cruel do bife de cada dia. É como se o Meio Ambiente existisse apenas “dentro de mim” e não “fora de mim”, como se apenas as atitudes que a mídia me pede fossem as barreiras que poderiam conter o aquecimento do Planeta. Nesse Meio Ambiente fajuto, os bois, os suínos, as galinhas e tantos outros animais que permitimos que sejam criados para a morte, ficam de fora, bem como cães e gatos que abandonamos diariamente a própria sorte. A árvore passa - ainda que considerada nos dias de hoje como uma espécie desprovida de senciência - a ser mais importante do que o sofrimento de um animal que já é aceito pela ciência humana como um ser senciente- mas a árvore não é aceita porque gostamos dela, nós a aceitamos e a respeitamos somente porque vemos nela uma utilidade: a de que, através dela, talvez possamos permanecer vivos num planeta que estamos destruindo com nossas ações diárias.

Infelizmente não queremos enxergar que remendamos o Planeta ao invés de pararmos de perfurá-lo, acreditando que apenas fechando as torneiras ou plantando árvores sanaremos o crime que cometemos contra nossa casa planetária e contra todos os seus filhos.

Uma mentira contada durante muito tempo acaba se tornando uma verdade: E o amor a sabedoria?

Filosofia, palavra de origem grega que significa amor a sabedoria; amar a sabedoria nos faz caminhar rumo ao conhecimento na busca de nossa própria evolução, ela vem da reflexão, da busca pelas questões não esclarecidas no campo da existência humana. A Grécia ainda hoje é colocada como o berço da Filosofia, mas desde seu surgimento o ser humano já buscava por esse conhecer, por esse “que” a mais que pode nos transformar. Hoje vemos com novos olhos o que antes nem mesmo os sophos conseguiriam conceber, hoje temos acesso ao conhecimento de forma mais ampla e rápida do que qualquer sophos um dia poderia imaginar, no entanto, nos parece que hoje não buscamos conhecer.

Os sophos buscavam pela resposta da vida, pelas questões do Universo e da Natureza[1]: o alicerce para essa busca era a razão e a ciência da época. Tales buscava na água o princípio da vida, Anaximandro no ápeiron, Demócrito já nos dizia que o átomo existia e a ciência evidenciou isso há poucos anos. Foram-se os sophos, nasceram os filósofos e a busca pelo conhecimento prosseguiu. Criaram-se sistemas políticos, a democracia, o pensamento expandiu-se nos ensinamentos de Sócrates, de Platão, de Aristóteles, entre tantos outros. Os sistemas e os métodos se espalharam demonstrando de que forma poderíamos obter o conhecimento das verdades e, no entanto ainda hoje, parece que freamos esse esforço na busca por essa verdade.

Porém, foi nesse imenso campo filosófico da antiguidade que o ser humano foi retirado da Natureza da qual fazia parte, para se tornar o soberano e talvez nas mãos de Sócrates é que o antropocentrismo, hoje tão enraizado em todas as ciências humanas se fortaleceu. O ser humano passou da unidade para a separatividade, ocupando assim o lugar do Universo e da Natureza. Segundo os filósofos, por ser racional, por poder comunicar-se, é que o ser humano deveria ocupar esse lugar privilegiado, deixando abaixo os demais seres da criação e que dividem com ele esse pequeno espaço chamado Terra; desse ponto para a dominação violenta e escravocrata em relação aos animais não-humanos, não foi nada difícil: Os seres humanos vivem para reinar, os animais para servir. A mentira virando verdade.

Essa a “Arte da Guerra” da qual nos fala Michel Onfray, uma estratégia muito bem elaborada contra os animais não-humanos e a favor dos animais humanos, sem que fossem pensadas as consequências futuras desse ato. Foram de certa forma, calados e silenciados aqueles que ousavam falar a favor dos animais não-humanos, pensamentos que visitassem esse campo igualmente foram sendo “apagados”, ignorados dentro dos trabalhos filosóficos, de modo a não colocar em perigo o antropocentrismo. E como Onfray nos coloca:

Um erro ou uma distorção da realidade repetido dez vezes, cem vezes, mil vezes, torna-se verdade (ainda mais quando sua proliferação emana dos grandes , dos poderosos, dos oficiais, das instituições), esse tipo de mentira piedoso passa por certeza definitiva.[2]


Mas vivemos separados da Natureza, e sabemos que os estóicos passavam um conceito diferente no qual não havia essa separação entre homens e Natureza , e esquecemos de debater sobre Sêneca, Porfírio e tantos outros que ousaram falar a favor dos animais não-humanos pois, hoje nos parece que essa defesa dos animais não-humanos é uma parte da filosofia que nos traz um sentimento de “enfraquecimento filosófico”, bem como esclarece Onfray ao dizer que a História da Filosofia conta apenas a história dos vencedores e não a dos vencidos, ou seja, ela conta a história pautada no antropocentrismo, não na igualdade de direito e justiça entre os habitantes do Planeta, sejam eles humanos ou não-humanos.

E o antropocentrismo foi se fortalecendo e deparou-se talvez com um de seus maiores e mais fortes pilares de sustentação: A Religião. Foi ela quem disse aos seres humanos que os animais foram criados por Deus para servirem ao “homem”, foi ela quem incutiu ainda mais essa separatividade entre seres que deveriam viver em harmonia, que deveriam usar sua “racionalidade” para realmente praticar o Bem, jamais para punir, maltratar ou violentar outro ser, assim como vem sendo feito com os animais não-humanos.

Sabemos bem o que ocorreu desde então: os animais não-humanos foram transformados em coisas mecânicas por Descartes[3] e seus seguidores, porque raciocinar parece –infelizmente até hoje – dentro da Filosofia, o único ato realmente importante e que deva ser levado em conta, os demais como, por exemplo, a senciência, permanecem escondidos da História da Filosofia. E vemos claramente essa separação do que se deve ou não se deve levar em conta ao lembrarmos que muitos autores, comumente estudados nas universidades não têm determinados assuntos[4] colocados em pauta.

E surgiu o Iluminismo que visava realmente libertar o homem da escuridão, e mais uma vez ficamos no campo racional, intelectual, sem nos expandirmos muito para a Natureza, sabemos apenas que Voltaire era crítico ferrenho de Descartes, mas acabamos por desconhecer muitas das críticas, sobretudo aquelas voltadas diretamente sobre as ideias mecanicistas de Descartes em relação aos animais. Isso não parece ser algo importante dentro do campo filosófico e não o é exatamente porque o antropocentrismo que toma grande parte da Filosofia não o permite. É algo perturbador ver que não se pode tocar nesse assunto, e agir como se nem ao menos existisse essa separação, tal a naturalidade com que é aceita por todos. Jean- Jacques Rousseau parece ter escrito o “Contrato Social” apenas para os seres humanos, para que eles vivessem em paz entre eles, dentro de sua sociedade fechada e apartada da Natureza, mas se relermos o Contrato Social livres do antropocentrismo tradicional ao qual somos mecanicamente presos, veremos que não se trata apenas disso. Ele igualmente critica a visão cartesiana e a separatividade. Então vamos supor agora que estamos todos livres de nosso antropocentrismo cultural para seguirmos as palavras de um filósofo; despidos do ego que nos reveste poderemos ver que a Filosofia, em sua essência, já nos dizia que aos animais não-humanos também devem ser fornecidos os mesmos direitos inalienáveis que a nós, animais humanos. Rosseau mesmo nos fala sobre o supremo bem, a Liberdade:

“Todos nascem livres; O “ser vivente[5]” nasceu livre, e por toda parte geme agrilhoado; o que julga ser senhor dos demais, é de todos o maior escravo. Donde veio tal mudança? Quem a legitima?”[6]

Sim, quem legitima os crimes que cometemos contra os animais não-humanos?

Assim como outros, Montaigne também falava sobre o respeito à Natureza e a tudo que existia dentro dela, mas nos centramos apenas no que ele dizia em respeito à sociedade e aos humanos que nela vivem. E insistimos nisso sem buscar por nosso esclarecimento, sem buscar por uma ética pautada na Natureza, porque na verdade buscamos ignorar que nós somos a Natureza e que ela é na verdade, nossa imagem. Podemos notar que senão toda, ao menos grande parte da Filosofia é feita somente para o ser humano, numa busca ética que jamais irá ocorrer enquanto ele não se enxergar como mais um ser entre todos, dotado de raciocínio para melhorar, não para dominar e subjugar. É aí que se encontra o conhecimento pelo qual tanto se buscou: em saber “reinar[7]” com bondade, igualdade e justiça, não existe conhecimento dentro de um campo onde se domina outros corpos com violência, usando a razão como desculpa para as atrocidades cometidas, isso é tirania. Matar o amor pela sabedoria em busca do bem próprio é tirania, é abusar de um poder através da violência, é desdenhar da razão que se possui para igualar-se a bestas cruéis que matam somente por se acharem superior as demais, nem os animais o fazem, mas os seres humanos o conseguem com cruel naturalidade[8]. Nessa visão de torpeza, quem nos parece agora mais racional?

O problema é que somos surdos e cegos aos apelos da verdadeira Filosofia, aquela que realmente busca pelo saber, pois traz formação e não apenas informação, traz equilíbrio, pois o equilíbrio é que harmoniza os seres. No fundo, lá escondido, podemos sentir que nós tiranizamos a Filosofia, nós furtamos dela a possibilidade de dar a humanidade a chance de melhorar-se juntamente com a vida de todos os seres que fazem parte desse planeta. Hoje não fazemos o Dever pelo Dever, nós fazemos o que achamos que é melhor para nós, individualmente, sem nos preocuparmos com o que ocorrerá depois. Nós matamos os animais indiscriminadamente porque nos outorgamos esse direito, não porque faz parte do Universo ou na Natureza. Nós devastamos florestas porque nos achamos senhores do Planeta, no entanto ele, como “organismo vivo”[9], começa agora a nos repelir.Mas não fazemos o que a Filosofia nos pede: Questionar os por quês!

Será então que somos mesmo os seres, os entes, as criaturas reinantes e dominadoras que sempre nos achamos? Por quanto tempo ainda diremos mentiras para que se tornem as “nossas” verdades?


O que temos a ver com tudo isso? O Dever por medo.



Essa é a pergunta chave que quase ninguém se faz; O que temos a ver com isso, com a Natureza, com os animais não-humanos, afinal nós somos os seres dominadores dessa terra? A exploração incontrolável do ser humano pela Natureza está tornando o planeta quase inabitável, há que se resolver esse caos ou os seres dominantes irão perecer, mas a Terra na visão míope da humanidade, precisa dos seres vivos para sobreviver. Será? Essa nossa confusa visão acerca das coisas que nos rodeiam é nossa vaidade e será, possivelmente, nossa própria destruição. Somos como Narciso[10], que contemplando sua própria beleza caiu no lago e afogou-se. Desdenhamos daquelas criaturas que “achamos”, não se comunicam, e desdenhamos de nós mesmos quando nos separamos daquilo que nos fez: a Natureza. Mais uma vez a separatividade nos afastando da Unidade[11]. Hoje a humanidade se sente como uma vítima planetária, as águas invadindo as terras, os tornados e furacões cada vez mais fortes, as tempestades que levam com elas milhares de vidas humanas , mesmo assim nós não contamos os animais não-humanos, vítimas nossas e de nossas ações para com o Planeta , porque em nossa mentalidade ainda infantil somente os seres humanos são importantes, porque eles pensam que “pensam” que são as vítimas.

Tudo o que fazemos hoje não fazemos para tentar salvar o “Planeta” , os animais não-humanos ou as plantas, tudo o que fazemos é para “nos” salvar, para que continuemos a existir, não nos importa se o que fazemos hoje é certo ou errado, se achamos que temos uma chance de sobreviver, com certeza rumaremos naquela direção, desequilibremos ou não o Meio Ambiente mais adiante. Hoje acreditamos que plantar árvores é a solução para o Aquecimento Global. E milhares de árvores são plantadas diariamente, no entanto nos esquecemos que milhares de vidas de animais não-humanos são tiradas também diariamente e que suas mortes contribuem para a degradação desse Planeta[12]. Conseguimos com muita naturalidade plantar uma árvore que “acreditamos”, “um dia” poderá nos trazer algum benefício, ao passo que não sentimos absolutamente nada ao ver a carcaça de um animal senciente dependurada num açougue. Regamos a árvore com carinho acreditando que fizemos nossa parte ao plantá-la, e fechamos nossos olhos para o assassínio que cometemos com os animais não-humanos como se isso não fosse importante para o nosso bem e para o bem do Planeta. Sentimo-nos isentos dessa dor, quando na verdade pagamos para que ela prossiga silenciosa, sem querer acreditar que somos os verdugos mais cruéis de Gaia e de seus demais filhos. Somos “bons”, afinal plantamos milhares de árvores por ano,só nos esquecemos que não fazemos o Dever por Dever e sim por medo, por medo de desaparecermos e descobrirmos que o Planeta pode viver em harmonia sem a presença racional da humanidade. Se nos fizessem uma proposta para que parássemos de comer carne em troca de riquezas ou de qualquer coisa que nos fosse proveitosa, com certeza a grande maioria aceitaria, pois o faria somente em seu beneficio. Nos surge agora uma importante questão e que vai levar as pessoas a refletirem melhor, mesmo as mais antropocêntricas:

De onde vieram tantos problemas com o Meio Ambiente? E como resolvê-los para que permaneçamos vivos e reinantes?

Nós somos o problema. Nossa mudança moral é que vai frear a nossa destruição. Quanto mais antropocêntrico o ser humano se tornar, mas vai destruir a si mesmo, pois assim como Narciso, só concebe a si como o ser mais belo e importante, devastando o alicerce que lhe permite a vida: a Terra. É hipocrisia plantar milhões de árvores e continuar a poluir o solo e as águas com os restos de animais não-humanos que são mortos por um paladar desnecessário. É ridículo deixarmos de dar a descarga num banheiro enquanto gastamos milhões de litros de água para termos em nossa mesa um único bife. Se apenas pensar nos Direitos Animais não é suficiente para que alguns seres humanos pensem neles - nos animais não-humanos - , que pensem então no que fazem para si mesmos com sua alimentação violenta e degradante, pois ao submeter animais sencientes a exploração, ao medo e a dor apenas porque ainda são incapazes de se sentirem como parte da Natureza, estão destruindo a si mesmos sem medirem as consequências. O medo de morrer força a humanidade a fazer o dever por medo, e ela o faz, talvez até aprenderem a serem bons e justos com os demais seres que os rodeiam naturalmente fazendo, a partir desse momento, o Dever pelo Dever.

Nós somos os causadores das inúmeras doenças[13] e ainda assim culpamos os animais não-humanos, ainda por cima os usamos como cobaias para a criação de novas vacinas para doenças que poderíamos ter evitado que surgissem, meros paliativos para nossa enorme insensatez diante da Natureza, assim como plantar árvores ou apenas economizar água ,não buscamos a raiz do problema, ou seja, nossas ações. Não conseguimos nos ver e nem ver os animais não-humanos como seres incluídos nesse Meio Ambiente que desrespeitamos. O Meio Ambiente atual , para grande parte da humanidade, tem o significado de árvores, florestas e multas. Alguns dizem se preocupar com a água, porém nada mais fazem do que o dever pelo medo: e se ela escassear? As grandes corporações evitam poluir as águas, não por respeito aos seres vivos que dependem dela, mas para evitar as pesadas multas. A taxa de poluição do solo e do ar é controlada para que não só não ocorra uma multa, mas para que não prejudique a qualidade de vida humana, não em respeito à Natureza como sujeito de direito[14], mas para que a vida humana possa permanecer existindo nela, embora se ache fora dela. De um lado plantamos árvores para nos proteger das "agressões" do Planeta, de outro devastamos grandes áreas para a pecuária e o cultivo de grãos que servirá de alimento ao gado. E alguns lutam para que a fome no mundo se acabe, sem se absterem do bife de cada dia. Não vemos culpa em nossas ações. Ignoramos que matamos milhões de seres vivos e que com isso, desrespeitamos a nós mesmos nos colocando como seres embrutecidos e bestiais. 

Confinamos os frangos em espaços minúsculos, o mesmo fazemos com suínos, caprinos ou bovinos, porque como seres “racionais” temos o “direito” de atormentar física e moralmente aqueles que colocamos abaixo de nossa razão. Devastamos as matas e culpamos um mísero mosquito por nossas doenças e ainda por cima matamos nossos fiéis amigos para que não nos passem uma doença que criamos para eles[15], só que não nos lembramos que ao desmatarmos determinadas áreas para fazermos nossas casas, destruímos um ecossistema[16] que era equilibrado, onde o tal “mosquito vilão” tinha seu predador natural e não se reproduzia além do permitido.

E como ensinar o ser humano a ter respeito pelos animais não-humanos e não mais fazer o dever pelo medo?

Essa é a questão sobre a qual a Filosofia precisa urgentemente se debruçar, para isso é necessário que a libertemos do nosso jugo antropocêntrico, que fez dela uma ciência antropocêntrica. A solução para todo esse caos seria a educação para a vida, a educação para a Natureza, englobando-se todos os seres existentes da Terra. A mudança, embora lenta, pois sabemos que os seres humanos são extremamente resistentes a tudo que lhes é novo e que possa gerar uma mudança, poderá acarretar benefícios não só aos animais não-humanos, mas a toda a humanidade . O primeiro passo é que a Filosofia continue a questionar o que fazemos com a Terra e com seus filhos para que a humanidade possa trabalhar essas questões e libertar-se aos poucos, de séculos de escravidão sob o jugo antropocêntrico , assim quando falarmos em vida ou em seres vivos, não se consiga mais pensar na separação que fazemos hoje entre animais humanos ou não-humanos, mas que gere um só pensamento: O ser vivente e que divide conosco esse Planeta e para com o qual devemos estender a nossa responsabilidade e a nossa ação moral, não mais por medo, mas pelo dever .





Notas




[1] Dentro desse texto, especificamente, quero propor a visão de Natureza como o Planeta em sua totalidade, com seus reinos distintos e muitas vezes marginalizados pelo ser humano, já o Universo pode ser compreendido como realmente é, o imenso Cosmos que cerca a Terra, tudo muito simples, nada filosoficamente incompreensível para aqueles que ainda desconhecem o incomensurável mundo dos conceitos filosóficos .


[2] Michel Onfray , A historiografia, uma arte da guerra, pg 15, § 2


[3] Ao separar, “racionalmente”,a alma do corpo, Descartes chegou a conclusão de que o pensamento(a razão),era a essência da alma, o que o levou a afirmar que : o que para ele não possuísse alma e linguagem inteligível, seria autômato , desprovido de qualquer senciência.


[4] Sobretudo aqueles em que se referem aos animais não-humanos.


[5] No original « todo homem nasce livre », grifo meu.


[6] Jean-Jacques Rousseau- Contrato Social- Livro I- pg 21-§4


[7] “Se”, e abrimos um parêntese aqui, “Se” o ser humano for o “Ser” que deve reinar por possuir maior capacidade de raciocínio, esse raciocínio não lhe confere o direito de se tornar tirano. O ser mais capaz dentre todos deve ser aquele que deve espelhar justiça, guiar-se por ela para harmonizar a todos. Esse seria o “homem de ouro “ em Platão, ele é feito de ouro e nada mais precisa buscar fora de si, é o guardião. Se, o ser humano for o “Ser de Ouro” no campo planetário, deve ele guiar os demais com justiça e igualdade, fazer o dever pelo dever, e não é isso o que vemos desde que surgiu nesse planeta.


[8] Embora o nome de Hitler seja sempre o primeiro a ser lembrado quando se fala em crimes contra a humanidade, ele não foi o criminoso que mais matou, segundo a História foram: Mao Tse-tung: 30 milhões, Joseph Stalin: 20 milhões , Adolf Hitler: 11 milhões segundo o site “Aventura na História”-. Essa cifra redobra quando mudamos de humanos para animais , fazendo um cálculo aproximado, os seres humanos matam entre 20 a 50 bilhões de animais por ano entre galinhas e frangos, patos, porcos, coelhos, perus, gansos, carneiros,ovelhas,cordeiros, cabras, bois, vacas, vitelos, roedores, pombos e outras aves, búfalos,cavalos,asnos,mulas, camelos e outros camelídeos, cães,gatos, baleias, golfinhos e uma infinidade de peixes e crustáceos, cometendo igualmente um crime não só contra a humanidade, mas contra todo o planeta Terra; rios, solos, água,etc, segundo o site Centro Vegetariano”.


[9] Segundo James Lovelock e Lynn Margulis, Gaia, a Terra, é um organismo vivo que se auto regula permitindo assim as condições que mantêm a vida dos seres que nela habitam, ou seja, não é o ser humano que faz Gaia existir, e sim Gaia que permite que o ser humano a habite. A Hipótese ou como ficou mais conhecida, a Teoria de Gaia, coloca que os acontecimentos atuais são na verdade uma reação desse superorganismo contra os vírus que a está destruindo, sendo necessária uma reflexão da humanidade sobre os males causados a Gaia.


[10]Na Mitologia, Narciso era filho de um deus com uma ninfa e segundo um advinho, o jovem viveria muito desde que não visse a própria imagem. Rapaz de extrema beleza e orgulho, um dia ao ver seu reflexo nas águas de um lago, apaixonou-se.Encantado com o que via, passou dias a admirar a própria imagem, sem beber ou comer, até seu corpo ir definhando. Alguns contam que atirou-se, o jovem, nas águas do lago afim de abraçar a imagem, e assim morreu afogado.


[11] A vida em harmonia com os demais reinos, para que seja harmoniosa também a nossa existência.


[12] O que mais podemos encontrar nos dias de hoje é a relação da pecuária industrial com o efeito estufa, os resultados demonstram ser ela, a pecuária, responsável por cerca de 18% do total das emissões de gases causadores do aquecimento global, maior que a poluição vinda dos meios de transporte 13%,e incluindo-se aí, o desmatamento, a contaminação da água, e o gasto excessivo desta, pela pecuária.(Informativo IEA-Aqualung)



[13] Gripe aviária, gripe suína H1N1, febre aftosa, o mal da vaca louca, entre tantas outras que conhecemos.


[14] Sujeito de direito é todos aquele que está apto a ser titular de direitos,a quem é consagrado a igualdade sem distinção formal, vetando assim a “distinção de qualquer natureza”, esse ponto de vista nos mostra que o homem não tem direito sobre a Natureza, sem sobre os seres que nela habitam.Hoje não se respeita a Natureza dela por ser plena em si, mas tenta-se respeitá-la para que a humanidade não saia prejudicada.


[15] Leishmaniose; Normalmente os animais soros-positivos para essa doença são exterminados, pois passam a ser considerados vetores, embora pessoas que tenham adquirido a mesma doença sejam igualmente vetores.


[16]A degradação do cerrado foi a principal causa do surgimento da febre amarela que infectou os bugios, o ser humano para tentar se proteger de uma doença que havia causado através desse desequilíbrio ecológico, contra atacou matando os bugios, como se fossem eles os culpados por espalhar a doença, alegando que os macacos estavam invadindo as áreas urbanas; infelizmente a racionalidade humana não questiona os motivos da “invasão”, nem se essa invasão ocorre ao contrário do que a mídia normalmente nos coloca. 




Simone Nardi

 

 


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