quarta-feira, 29 de maio de 2013

Dicas de Livros

Crueldade com animais X Violência doméstica contra mulheres: Uma conexão real

Maria José Sales Padilha
O livro “Crueldade com animais X Violência doméstica contra mulheres: Uma conexão real”, revela uma pesquisa inédita realizada no Brasil e desenvolvida em Pernambuco. A autora, Maria José Sales Padilha é Presidente da AADAMA – Associação Amigos Defensores dos Animais e do Meio Ambiente – teve por objetivo de examinar a conexão entre a crueldade praticada contra animais e a violência doméstica contra mulheres.
Neste livro, também se encontram relatos de crueldades com animais e com humanos, ocorridos em Pernambuco, no Brasil e mundo afora além de informações necessárias para compreender as diversas formas de violência contra a mulher e perfil de seus agressores. O livro denuncia a omissão dos poderes públicos no que diz respeito às políticas de enfrentamento à violência contra animais e revela uma vertente da violência, a conexão real da crueldade com animais e sua relação com a violência doméstica contra as mulheres.
A amostragem da pesquisa foi composta por mulheres de várias classes sociais de Pernambuco que buscaram Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher para registrarem, através do Boletim de Ocorrência – BO, a violência sofrida por parte dos seus agressores de acordo com a Lei nº 11.340 de 07 de agosto de 2006, Lei Maria da Penha.
O livro também sugere alternativas educacionais e policiais que favoreçam a construção de uma cultura de paz para todas as formas de vida.
Pedidos podem ser efetuados através do email mpadilha@elogica.com.br.

A ligação entre o abuso de animais e violência humana
Capa
Andrew Linzey -Sussex Academic Press, 2009 - 346 pg.
 
Muitos filósofos, incluindo Aquino, Locke, Schopenhauer e Kant, ter assumido que existe uma ligação entre a crueldade contra animais e violência para as pessoas. Durante os últimos 40 anos, as provas para esta visão tem vindo acumulado como resultado de investigações estatísticas, psicológica e médica, e agora há um corpo substancial de provas empíricas. A ligação entre o abuso de animais e violência humana, agora em paperback, reúne especialistas internacionais de sete países, para examinar em detalhes: as relações entre o abuso de animais e de abuso infantil, o desenvolvimento emocional da criança, a violência familiar e assassinatos em série. Ele considera as implicações para a política jurídica e social, eo trabalho de profissionais-chave. As seções incluem visões críticas de pesquisa existente, a discussão de questões éticas, e um foco especial sobre o abuso de animais silvestres. Este livro é leitura essencial para todos aqueles que têm uma participação no debate, ou porque seu trabalho acadêmico se relaciona com as questões envolvidas, ou porque seu papel profissional envolve o contato com o abusado ou os agressores, tanto humana e animal. É um volume autoritário e abrangente sobre a relação entre o abuso de animais e violência humana.
Visite a página de Dicas de Livros


Redação do blog Irmão  Animais- Consciência Humana




Gostou destas dicas?
Mande um recado pelo
FALE CONOSCO 
Nos Ajude a divulgar 
Twitter    




©Copyright Blog Irmãos Animais-Consciência Humana - Simone Nardi -2013 
 Todos os direitos reservados 
RESPEITE OS DIREITOS AUTORAIS - CÓPIA E REPRODUÇÃO  LIBERADAS DESDE QUE CITADA A FONTE - 2013


quinta-feira, 23 de maio de 2013

Irmãos Menores Animais?



Muitos questionam o termo utilizado por Francisco de Assis "Irmão Menor Animal", a Revista Sexto Sentido da Editora Mythos  nos deu a oportunidade de esclarecer o termo "menor" e e assim finalizar todas as dúvidas em relação a esse modo humilde e amoroso com que Francisco de Assis se dirigia a  esses nossos irmãos menores. A Revista  pode ser adquirida diretamente pelo site da Editora Mythos, a quem agradecemos a oportunidade do esclarecimento e da divulgação.



Transcrevemos aqui o artigo publicado na Revista Sexto Sentido

.

 Irmãos Menores Animais?



Muitas pessoas quando ouvem essa referência aos irmãos animais discordam de pronto, alegando que nós humanos é que somos menores em relação aos animais devido a todas as coisas que fazemos de ruim para eles. 



É preciso lembrar que essa expressão “Irmão menor animal” foi cunhada por Francisco de Assis e que não possui em momento algum a intenção de menosprezar ou inferiorizar os animais, ao contrário, ela atribui uma enorme responsabilidade a nós humanos em relação a estes que caminham conosco. De fato a própria ordem franciscana se chama “Ordem dos frades menores”, menores em humildade. Em uma passagem do Livro dos Espíritos encontramos uma dúvida parecida com a que cria certa confusão ao termo irmão menor. 



592. Se, pelo que toca à inteligência, comparamos o homem e os animais, parece difícil estabelecer-se uma linha de demarcação entre aquele e estes, porquanto alguns animais mostram, sob esse aspecto, notória superioridade sobre certos homens. Pode essa linha de demarcação ser estabelecida de modo preciso?

R. A este respeito é completo o desacordo entre os vossos filósofos. Querem uns que o homem seja um animal e outros que o animal seja um homem. Estão todos em erro. O homem é um ser à parte, que desce muito baixo algumas vezes e que pode também elevar-se muito alto. Pelo físico, é como os animais e menos bem dotado do que muitos destes. A Natureza lhes deu tudo o que o homem é obrigado a inventar com a sua inteligência, para satisfação de suas necessidades e para sua conservação. Seu corpo se destrói, como o dos animais, é certo, mas ao seu Espírito está assinado um destino que só ele pode compreender, porque só ele é inteiramente livre. Pobres homens, que vos rebaixais mais do que os brutos! Não sabeis distinguir-vos deles? Reconhecei o homem pela faculdade de pensar em Deus.”




Mas por que irmão menor?



Porque estamos todos em uma escalada evolutiva e por pior que cada um de nós possa agir em relação ao nosso outro, “é um ser à parte, que desce muito baixo algumas vezes e que pode também elevar-se muito alto” , estamos evolutivamente um degrau - se assim podemos colocar - acima destes irmãos. Despertamos para a moral, para a ética, podemos não usar, mas temos consciência disso. Conquistamos a linguagem, a diferença corporal. Temos consciência de um Deus e de que nossa responsabilidade é grande, embora nos apeguemos a auto-indulgência para continuarmos falhos. E sabemos que nosso “ Espírito está assinado um destino que só ele pode compreender, porque só ele é inteiramente livre”, embora não saibamos usar  dessa liberdade usando mal nossa razão.



A questão é que a palavra menor nos dias de hoje não nos remete mais ao termo humildade a qual Francisco se referia, por nossa própria culpa, por mudarmos constantemente o sentido das palavras ,foi  nossa vaidade que nos ensinou a crer que o inferior deve sofrer ao invés de ser protegido, nosso egoísmo que nos ensinou que o menor é sempre menos que nós, os maiores, só não sabemos maiores em “quê”.



Irmão Menor Animal, na concepção correta de Francisco de Assis, significa aquele ser que é humilde, que é simples e puro de coração;  os animais, assim como todos os seres vivos, vêm de muito longe numa luta evolutiva e redentora rumo a ascensão espiritual, assim como tão bem nos coloca o Espírito Emmanuel:



Os animais são os irmãos menores dos homens. Eles também, como nós, vêm de longe através de lutas incessantes e redentoras, e são, como nós, candidatos a uma posição brilhante na espiritualidade. Não é em vão que sofrem nas fainas benditas da dedicação e da renúncia, e a favor do progresso dos homens.



A evolução, segundo o Livro dos Espíritos ocorre assim para todos os seres vivos, conforme a questão 601:

601. Os animais estão sujeitos, como o homem, a uma lei progressiva?

“Sim; e daí vem que nos mundos superiores, onde os homens são mais adiantados, os animais também o são, dispondo de meios mais amplos de comunicação. São sempre, porém, inferiores ao homem e se lhe acham submetidos, tendo neles o homem, servidores inteligentes.”




No texto podemos ler a seguinte afirmação “São sempre, porém, inferiores ao homem e se lhe acham submetidos”, essa palavra inferior refere-se  a ser inferior na escalada evolutiva, por isso tanto a palavra inferior quanto a palavra menor devem ser interpretadas com a visão de “Escala Evolutiva” e não com a interpretação errônea, como vem acontecendo, na relação de dono-escravo na visão superior-inferior, pois cada Espírito, estando em determinada condição/estágio evolutivo será sempre inferior ou menor em relação àquele que já se encontra em uma escala evolutiva mais adiantada, tal como a escola, onde se inicia no primário e se chega à faculdade, a relação evolutiva é a mesma. O mineral assim se encontra em relação de inferioridade/menoridade ao vegetal. O vegetal é também inferior/menor em relação aos animais . Ou alguém é capaz de duvidar que um animal seja mais inteligente  e racional que arbusto ou uma pedra?  Assim os animais, mesmo já  conquistando inúmeros atributos,  ainda se encontram dentro da “Escala Evolutiva”, em condição menor/inferior aos seres humanos, por estarem numa fase animal ainda abaixo da evolução da fase animal da espécie humana.



O que reforça ainda mais a ideia de que a palavra menor não serve para denegrir os animais  surge na própria resposta da questão 601: “e daí vem que nos mundos superiores, onde os homens são mais adiantados, os animais também o são” , ou seja, nos mundos superiores os animais estão numa escala evolutiva superior aos animais que dividem conosco este planeta, ou seja, nossos irmãos animais estão numa escala inferior/menor aos animais que habitam os mundos mais adiantados, assim como nós somos inferiores/menores aos seres “humanos” destes planetas mais adiantados.



Para dizermos que os animais são mais evoluídos que nós por serem bons ou perfeitos, precisaríamos igualmente imaginar que plantas e minerais igualmente são mais evoluídos e perfeitos que os seres humanos e estaríamos colocando os animais, além de nós mesmos, numa evolução abaixo de minerais e vegetais, o que não corresponde a Lei de Evolução onde tudo progride, cada um a seu tempo, num despertar crescente dos valores espirituais, morais e éticos.



Devemos apenas nos lembrar de uma frase simples encontrada no Evangelho segundo o espiritismo “ A quem muito foi dado muito será cobrado”  . Não somos inferiores aos animais na escala evolutiva, mas somos culpados por não seguir o caminho que Cristo nos apontou, o de amar ao próximo como a si mesmo; somos culpados por termos conquistado uma moral e uma ética, uma inteligência e um raciocínio superior a dos animais, porém usá-los contra eles e contra nós mesmos.  "Se fosseis cegos, não teríeis culpa"  nos disse Jesus, por isso somos culpados por saber e por não realizar. Os animais são nossos irmãos menores na escalada evolutiva e tal como crianças que cursam o primário, devem ser guiadas por aqueles que lhe são superiores intelectualmente:


Desde que o princípio inteligente atinge o grau necessário para ser Espírito e entrar no período da humanização, já não guarda relação com o seu estado primitivo e já não é a alma dos animais, como a árvore já não é a semente.



Essa é a verdadeira Lei de Progresso, degrau a degrau em uma elevação constante ao Pai.





Referências



Allan Kardec- Livro dos Espíritos

                        Evangelho Segundo o Espiritismo



André Luiz – Missionários da Luz

       Emmanuel – O Consolador


Simone De Nardi Grama

 

Redação do blog Irmão  Animais- Consciência Humana




Gostou deste artigo?
Mande um recado pelo
FALE CONOSCO 
Nos Ajude a divulgar 
Twitter    




©Copyright Blog Irmãos Animais-Consciência Humana - Simone Nardi -2013 
 Todos os direitos reservados 
RESPEITE OS DIREITOS AUTORAIS - CÓPIA E REPRODUÇÃO  LIBERADAS DESDE QUE CITADA A FONTE - 2013
 


Animais e a Espiritualidade- Seminário em Itú


Caso não consiga visualizar a mensagem abaixo, acesse o link


terça-feira, 14 de maio de 2013

A criminologia e o maltrato animal

Por Loren Claire Canales (da Redação do ANDA)

“Embozalado” (Amordaçado), obra de Daniel Segura Bonnet, artista colombiano.

Em um interessante artigo reproduzido esta semana nas redes sociais, Laurent Bègue, professor de Psicologia Social na Universidade Pierre Mèndes-France de Grenoble, se refere ao maltrato animal como um novo medidor que está servindo a criminologia internacional para analisar a extrema violência que o ser humano pode desenvolver no meio social.

Maltratar um animal é, em muitos casos, a consequência de uma frustação ou de um trauma e é um comportamento que se adquire durante a infância. Pode se desenvolver também na adolescência. O maltrato animal nasce no seio familiar ou escolar e pode se transformar em um comportamento anti-social.

O maltratado e em especial o maltrato aos animais de companhia está presente em qualquer grupo humano, pois as crianças assim como os animais domésticos são os primeiros catalizadores de nossas frustrações.

No entanto, em nossa época, o maltrato animal chegou a um nível considerável de tortura. Um exemplo disso é a denúncia que um colaborador do Soyperiodista.com fez há pouco tempo. “Os animais importam”, publicado dia 03 de maio e que se referia ao caso de um homem em Ibagué (Tolima, Colômbia), que matou um cachorro segurando pela cauda e lançando o animal violentamente contra o chão.

A violência contra os animais é mais frequente do que imaginamos, ainda que uma proteção para não vê-la e não sofrê-la seja a de tomá-la como uma violência banal: “são somente animais”.

Os atos de crueldade contra os animais falam muito sobre a personalidade de quem os comete. Esse tipo de crueldade pode variar desde golpes até a retirada da pele dos animais ainda vivos (cachorros e gatos pequenos), sem contar a utilização para fins sexuais a que são submetidos.

Essa relação de violência do homem com o animal impulsionou os pesquisadores de criminologia a tomá-la como um medidor fiável do grau de violência em indivíduos que cometeram ou que podem cometer crimes e outros delitos graves.

Psiquiatras e especialistas em Psicologia Social da Universidade do Pacífico, na Califórnia, comprovaram, por exemplo, que 45% dos autores de nove massacres cometidos em escolas nos Estados Unidos durante os últimos 20 anos haviam praticado atos de barbárie contra seus animais domésticos.

O professor Laurent Bègue cita um estudo que merece atenção, é o caso que aconteceu após o massacre na Escola de Columbine, Colorado, dia 20 de abril de 1999.

Os criminologistas constataram que Eric Harris e Dylan Klebold, os dois estudantes que mataram 12 de seus colegas de escola, um professor e feriram mais 20 pessoas antes de cometerem suicídio, haviam confessado que quando eram crianças gostavam de praticar mutilações e provocar sofrimento aos seus animais.

O professor Bègue se refere a outros dois casos: “Em um estudo retrospectivo realizado em uma prisão com 36 autores de assassinatos, 36% deles admitiram ter matado ou torturado animais durante a infância e 46% cometeram atos de crueldade durante a adolescência. Em outro estudo realizado em um meio carcerário com 180 presos, Brandy Henderson, da Universidade do Tennessee, comprovou que os atos de violência contra animais que os detidos declararam haver cometido eram particularmente frequentes”.

Tipos de maus-tratos que os detidos praticam com os seus animais ou com outros animais:

- afogamento (17,5%);
- espancamento (82,5%);
- disparos (33,0%);
- pontapés (35,9%);
- estrangulamento (17,5%);
- queimaduras (15,5%);
- utilizam para fins sexuais (22,3%)


A crueldade com os animais segundo Franck Ascione, da Universidade de Denver, é um comportamento socialmente inaceitável, pois o intuito do torturador é causar dor, sofrimento, angústia e/ou morte do animal por puro prazer.

A psiquiatria permite afirmar que os atos de crueldade cometidos por uma criança podem revelar uma precoce predisposição para desenvolver condutas anti-sociais. Uma criança torturadora de animais é suscetível a ter problemas com a justiça quando for adulta.

As razões que levam um indivíduo a maltratar um animal

Os americanos Stephen Kellert e Alan Felthous, das Universidades de Yale e do Texas, citam oito razões que levam um indivíduo a maltratar ou torturar os seus animais domésticos:
1-      Controle: o animal é golpeado para que não continue manifestando comportamentos indesejados (latir, saltar, brincar…);

2-      Castigo: aplicar um castigo extremo para que não volte a repetir algum hábito incômodo (ensujar ou vomitar em lugares que são proibidos para ele);

3-      Falta de respeito: Está relacionado a preconceitos culturais. É quando uma pessoa acredita que pode maltratar ou negligenciar um animal já que sua condição de inferioridade não o faz merecedor de nenhuma consideração;

4-      Instrumentalização: Utilizar os animais para “dramatizar” a violência, é o caso das rinhas de cães;

5-      Amplificação: o animal é utilizado para impressionar, ameaçar ou ferir uma pessoa. Aqui se verifica a transferência da violência humana contra o animal;

6-      A violência como provação ou como exemplo: Maltratar um animal perante um grupo com a finalidade de fazer com que os seus membros se convertam em testemunhas de uma forma de superioridade do agressor. O indivíduo também pode torturar por diversão;

7-      Vingança: O indivíduo agride um animal para vingar-se de seu proprietário;

8-      Por deslocamento: O animal é maltratado porque o indivíduo não tem a possibilidade ou é incapaz de maltratar quem lhe provocou uma frustração ou uma decepção. Não consegue fazê-lo porque tem medo ou porque a pessoa é inatingível. É o caso do empregado que espera uma promoção e que na impossibilidade de tê-la, regresa a casa e dá pontapés em seu animal doméstico.


A análise do professor Laurent Bègue nos leva a concluir que a tortura contra os animais nasce de uma má qualidade de vida. Os animais pagam pela nossa dificuldade para viver, pagam por serem testemunhas inocentes da nossa própria mediocridade.


Fonte: ANDA 




* O artigo saiu logo após o espancamento de  um filhote de poodle, o que causou indignação à muitas pessoas, mas não podemos nos esquecer também, que dentro dos frigorificos e granjas, trabalhadores cometem as mesmas atrocidades e dessa vez com a nossa permissão, pois pagamos a eles para que matem/maltratem os animais, que será consumido posteriormente.Não podemos nos indignar somente quando é um cão, mas devemos nos indignar pelo ser vivo que sofre, seja cão, gato, boi, galinha ou suino.




Redação do blog Irmão  Animais- Consciência Humana

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Vivissecção:mal necessário?

Baseada em uma visão positivista e pragmática, a ciência utiliza animais como cobaia de experimentos. Mas será que não é mesmo possível utilizar métodos alternativos que não sacrifiquem e maltratem seres vivos?



Por João Epifânio Regis Lima*



 
Shutterstock

Por vivissecção entendemos o uso de animais vivos como cobaias em laboratórios de pesquisa biológica ou biomédica. Animais vêm sendo utilizados como cobaias em investigações e explorações sobre a natureza há muito tempo. Sabemos, por exemplo, que Aristóteles observou e dissecou cadáveres de animais e lemos algumas das conclusões por ele obtidas em sua História dos Animais ou em Partes dos Animais ou em seus textos sobre o Movimento dos Animais, a Progressão dos Animais e a Geração dos Animais. Sabemos também dessa prática, já no Renascimento, associada aos estudos de anatomia de Andrea Vesalius
ou mesmo de Leonardo da Vinci, em um momento em que a valorização do experimento preparava a revolução científica do século 17. O passo decisivo, entretanto, para que a vivissecção assumisse a importância que hoje em dia lhe é atribuída no meio científico foi dado pelo fisiologista francês aClaude Bernard (1813-1878) em sua Introdução ao Estudo da Medicina Experimental, publicada em 1865. Claude Bernard é considerado o pai da moderna fisiologia experimental e o que fez para receber tal homenagem foi justamente tratar a vivissecção como parte indispensável do método experimental nas ciências biomédicas.


Shutterstock

Questionamento
Entretanto, o quadro apresentado acima, muito lido simplesmente como mais um capítulo enfadonho da história da ciência (deveríamos dizer "histórias das ciências"), suscita questionamentos importantes quando examinado mais atentamente. Considere-se, por exemplo, que a filha e a esposa de Claude Bernard, após o abandonarem, fundaram a primeira sociedade antivivisseccionista francesa, em reação aos horrores que presenciavam em sua própria casa. Bernard mantinha um laboratório e um biotério nos porões de sua residência, de onde se podia ouvir, dia e noite, os gritos desesperados dos animais que eram ali diariamente torturados. É importante saber que se estima que em apenas 15% dos experimentos envolvendo animais vivos é utilizado algum tipo de anestesia nos dias de hoje (WERMUS, 1984). No tempo de Bernard, esse número era certamente menor. Era comum entre os vivisseccionistas da época - e ainda é hoje em dia - uma concepção mecanicista acerca da natureza que, no caso específico das ciências biomédicas, confundia mecanismo com organismo
Segundo essa concepção, os seres vivos são considerados máquinas que obedecem apenas a leis mecânicas e que são incapazes de sentir dor. Essa ideia deriva da distinção entre corpo e alma proposta por Descartes, mas não sem lhe fazer injustiça. A injustiça vem da confusão que aqui se opera entre distinção e separação. Corpo e alma são substâncias distintas, diz Descartes nas Meditações e em As paixões da alma, mas inseparáveis.
A analogia, adotada por Claude Bernard, entre o grito do animal que sofre e o ranger das engrenagens de uma máquina explica-se - mas não se justifica - pela consideração unilateral e parcial do composto corpo-alma cartesiano. Deriva da atenção que se detém nas características do corpo segundo o que nos apresenta Descartes, mas esquece a unidade indissociável entre o corpo e a alma. Se tivermos, portanto, que pensar uma medicina cartesiana, será necessário pensar uma medicina psicossomática e não puramente mecanicista como aquela implicada no modelo assumido por Bernard.


"A concepção materialista acerca dos animais que os vê como meras máquinas bioquímicas, animais sem anima, incapazes de sofrer, inserese no contexto do desencantamento do mundo moderno"

Reducionismo Bioquímico
O mecanicismo que impregna a concepção científica de natureza predominante na modernidade encontra no reducionismo bioquímico um aliado indissociável na formação do conceito de organismo que se disseminou nas ciências da vida e na medicina ocidental a partir do século 18. No contexto de tal quadro conceitual, é natural que se concebam procedimentos investigativos que operem o desmembramento do organismo em suas partes constituintes. Do estudo de tais partes segue-se o exame do todo por meio da consideração das relações que podem ser entre elas estabelecidas. Tais procedimentos analítico-sintéticos operam de acordo com as segunda e terceira regras cartesianas para a condução do espírito, a saber, a regra da decomposição (segundo a qual se deve dividir o objeto de estudo em quantas partes forem necessárias) e a regra da ordem (que preconiza a partir dos problemas mais simples para os mais complexos).
A concepção materialista acerca dos animais que os vê como meras máquinas bioquímicas, animais sem anima, incapazes de sofrer, insere-se no contexto do desencantamento do mundo moderno. Pensá-los assim torna menos problemático e incômodo, do ponto de vista ético, utilizá-los friamente como meros objetos de estudo. Ainda assim, o incômodo não é de todo eliminado, não sendo raro ouvir declarações de que a vivissecção é um mal necessário. Pensar em que medida a vivissecção é de fato necessária implica refletir sobre os elementos determinantes de um paradigma das ciências biológicas que inclui a vivissecção como técnica indispensável.
O mecanicismo reducionista mencionado certamente faz parte dessa história. Vejamos que outros elementos ainda poderíamos considerar. Uma coisa é crer na ciência como algo que dá a conhecer as coisas como são, resolve todos os reais problemas da humanidade e é suficiente para satisfazer todas as necessidades legítimas da inteligência humana; outra é crer que os métodos científicos devem ser estendidos, sem exceção, a todos os domínios da vida humana; e uma terceira é, dentro do contexto científico, crer em apenas uma forma particular de resolver problemas específicos. A primeira crença diz respeito à imersão na ideologia cientificista, a segunda na ideologia tecnicista e a terceira em um paradigma científico qualquer de caráter específico (no caso, aqui, considerado um paradigma que envolve a vivissecção).

viés positivista
Por "viés positivista",
entende-se toda a visão da
ciência ou da filosofia fundada
na concepção do positivismo,
isto é, a doutrina
na qual a "ciência posivita"
seria utilizada para o progresso
da sociedade. O
principal formulador teórico
do positivismo foi Auguste
Comte (1798-1857). Essa
escola filosófica foi muito
forte no final do século 19
e marcou presença nas
ciências naturais e sociais,
na fi losofia, na criminologia
e no direito, entre outros
campos do conhecimnto.

Unindo o útil ao desagradável
A "necessidade" da vivissecção apresenta um viés positivista
, na medida em que é concebida em termos pragmáticos. Revela, assim, um tom particular da cultura científica, por meio da exaltação das ideologias cientificista e tecnicista. Defender a vivissecção como técnica única (ou
unicamente confiável) de investigação nas ciências biomédicas é partir do princípio positivista de que apenas os fatos concreta e diretamente observáveis são fonte segura de conhecimento. Tal concepção tira sua grande aceitação de seu maior objetivismo pragmático, o que possibilita maior controle e operacionalização do mundo e, se quisermos incluir o contexto capitalista, de obtenção de lucros.
Poderíamos perguntar: se a vivissecção é necessária, ela o é para quê? O aspecto relativo à sobrevivência da nossa espécie em sua luta contra as difi culdades impostas pelo ambiente nos vem imediatamente à mente. Tal preocupação direta com a sobrevivência não é, entretanto, nem o único nem o principal motivador da manifestação da necessidade da referida prática. Preocupar-se com a sobrevivência da espécie pura e simplesmente não implica, necessariamente, defender uma única forma de atingir esse objetivo. Certamente há, e a história e outras culturas insistem em nos mostrar, formas diversas de garantir a preservação de nossa espécie. A questão aqui é defender em massa uma técnica ou prática específica (vivissecção) como sendo a única seriamente capaz de dar conta do problema, o que parece não deixar dúvidas quanto a seu caráter ideológico e à afirmação de um paradigma. Tal paradigma é tido como fato consumado, e todo pensamento fica restrito a seus limites. Assim, por exemplo, quando alguém diz: "(...) se não fizermos em animais em quem iremos fazer?" "Não podemos fazer em seres humanos..." "Então vamos fazer isto em criancinhas?"
Raciocínio
Não é vislumbrado o caráter eletivo da técnica, sendo o raciocínio construído apenas com os elementos fornecidos pelo paradigma. Ou seja, já se parte do princípio de que é necessário abrir e dissecar alguma coisa para que se chegue a um conhecimento confiável sobre a biologia do organismo desses animais. Isso não se discute; resta apenas decidir em quem realizar a exploração. Neste pensar-dentro-doslimites há uma ênfase e grande preocupação em dar continuidade e fazer progredir algo que já existe (o paradigma), que é fato consumado e acima de suspeitas (e, portanto não é alvo de críticas) e que se acredita só poder manter-se de uma única forma.
Examinemos alguns depoimentos colhidos de estudantes e pesquisadores praticantes da vivissecção (os depoimentos foram extraídos de livro de minha autoria, intitulado Vozes do Silêncio, publicação de minha dissertação de mestrado):
"(...) se não fizermos isso, como vamos descobrir novos remédios e vacinas? Não vejo outra forma de testar métodos ou substâncias que poderão ser utilizadas em favor da humanidade."
"O uso destes animais é para o bem da ciência."
"Apesar do sacrifício destes animais, acho que há justificativa para o avanço da ciência."
"[a vivissecção] é necessária e já trouxe muitos avanços para a biologia, medicina etc."
"(...) desde que traga vantagens à ciência."
"Não sou a favor da (sic) matança por hobby! Sou apenas a favor do desenvolvimento da ciência."
"Em laboratórios científicos, os animais são sacrificados (mesmo com sofrimento, muitas vezes), mas em prol do avanço em pesquisas."
" (...) [a vivissecção] é fundamental para o progresso da medicina."


Nota-se que não foi dito que o uso dos animais serve à sobrevivência do homem, mas ao bem da ciência e da medicina, que devem ser, elas e não o homem, perpetuadas. Sendo assim, a vivissecção serviria, para além da óbvia obtenção de informação acerca dos organismos, para o progresso e manutenção de uma forma específica de conhecer tida, ideologicamente, como a mais eficiente ou exclusiva. Nesse tipo de depoimento, dificilmente é feita referência a métodos alternativos ou substitutivos de pesquisa. Não se concebe outro modo de estudar a fisiologia dos animais. O caráter monolítico, unidimensional, acrítico e alienado dos discursos aponta a vivissecção como prática inercial e tradicional, além de parte integrante, tida como indispensável, do paradigma moderno das ciências biológicas. Vista como mal necessário, a prática da vivissecção cega cientistas e educadores para a busca de métodos alternativos ou substitutivos. Com ela, ficam ciência e homem empobrecidos.


*João Epifânio Regis Lima é doutor em filosofia e mestre em psicologia pela universidade de são paulo. é professor de filosofia da ciência e estética na universidade metodista de São Paulo


Referências

Descartes, R. Meditações metafísicas. Tradução de Maria E. Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

_____________. O discurso do método. Tradução de Maria E. Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

_____________. Regras para a direção do espírito. Lisboa: Edições 70, 1989.

Kuhn, T.S. The Structure of Scientific Revolutions. Chicago, 1982.

Lima, J.E.R. Vozes do silêncio: cultura científica e alienação no discurso sobre vivissecção. São Paulo: Instituto Nina Rosa, 2008.
Wermus, D. Pour une Science Sans Violence; l'expérimentation animale en Suisse. Genève, Payot Lausanne, 1984



FONTE: Filosofia UOL




Gostou deste artigo?
Mande um recado pelo
FALE CONOSCO 
Nos Ajude a divulgar 
Twitter