quinta-feira, 6 de agosto de 2009

A Grande Batalha


“Certamente é doloroso arrancar a venda dos olhos,
deixar de viver na ficção que criamos dia a dia
para poder contemplar a realidade tal qual ela é,
além das fantasias comodistas. ”(N.Acrópole)


Um campo de batalha! Ali está prestes há ocorrer uma grande guerra. Existem dois grandes exércitos poderosos e bem armados dispostos a se enfrentar até a morte. Todo o céu parou para assistir essa grande luta, tamanha sua importância para a humanidade, mas essa guerra somente irá ocorrer se um guerreiro, um único guerreiro resolver lutar.

Nosso valoroso guerreiro se encontra agora no meio do campo de batalha, de um lado o exército dono das terras que serão ou não conquistadas, os verdadeiros donos, aqueles a quem por direito o guerreiro deve defender. De outro, o exército invasor, que deseja algo que não lhes pertence e que deseja tomar à força a terra que já é morada de outros.

O guerreiro olha para ambos os exércitos, aqueles a quem deve defender e os invasores, então descobre que entre os invasores se encontram seus parentes, pais, tios e irmãos, e do outro os verdadeiros possuidores da terra. De que lado lutar então?

Esse guerreiro é Arjuna e a batalha se passa no livro Bhagavad Gita, do Mahabarata hindu, guerra essa travada entre dois poderosos exércitos, os Pandavas e os Kuravas. E é Khirsna quem vai guiar com sabedoria os passos do jovem guerreiro.

O mais interessante nessa batalha é que ela não é travada fora do guerreiro, mas é uma batalha interna do homem contra si mesmo.

A terra pela qual os dois exércitos lutam é Hastinapura, a Sabedoria, conhecida pelos hindus como a Cidade do elefante; o exército Pandava nada mais é do que nossas virtudes, nossa essência espiritual, o altruísmo universal, nossa essência Divina, os Kuravas as nossas emoções, nossos apegos materiais e todo nosso egoísmo, ou seja , nosso lado materialista. O campo de batalha, Antakarana, é nosso corpo que luta pela busca de nossa essência Divina enquanto nos deixamos envolver pelo lado material. A Batalha é a busca pela posse de nossa própria Sabedoria, o retorno ao Bem , ao verdadeiro Eu que é imagem e semelhança de Deus e da qual a entrada no mundo do material nos desvirtuou. Os Kuravas usurparam o trono do rei, ou seja, usurparam de nós, os Arjunas, a nossa essência Divina, cegando-nos em busca do que é apenas material. Nossa personalidade egoísta usurpou o trono da alma em troca daquilo que desejamos ardentemente. Essa guerra é o que vai nos tornar, dependendo claro do lado que vamos escolher, mestres de nós mesmos, realizando o dever por dever, não mais por uma expectativa de recompensas vindouras.

É no Bhagavad Gita que encontramos o momento de mudança em um guerreiro.Toda nossa vida é assim, guerreando contra nós mesmos para vencer a batalha mais importante de nossas vidas que é o retorno ao Pai.

Em meio ao campo de batalha, assim como Arjuna, nós não queremos lutar, não queremos “matar” nossos vícios, nossos desejos materiais pela posse de Hastinapura, optamos sempre pelo mais fácil porque gostamos de nos sentir fracos e despreparados para essa batalha. Não lutamos por medo e não por fraqueza, porque assim como Khrisna confiou em Arjuna, temos a confiança Divina de que se tivermos coragem para lutar, venceremos.

Mas tal como Arjuna : Não queremos lutar. Como matar aqueles a quem estamos tão intimamente ligados, o desejo, o prazer, os vícios?? Como viver sem isso depois de tantos anos na matéria? Como lutar se somos acariciados com palavras de consolo sobre nossas fraquezas de que temos o nosso livre arbítrio, de que ainda não temos força, que errar faz parte de nossa jornada. Como lutar se nos espelhamos na fraqueza e não na coragem de mudar?

E os anos se passam e o tempo se escoa e vamos perdendo uma batalha após a outra porque somos vítimas de nós mesmos e porque ocupar esse lugar de vítima nos faz bem.

Porque ocupar esse lugar de fracos, de seres que necessitam de auxilio a todo o momento nos faz bem, só que esquecemos que temos ao nosso lado alguém que sabe que só poderemos vencer se deixarmos de nos comportar como crianças fracas e mimadas e nos tornarmos realmente guerreiros, guerreiros que honram a confiança depositada nele.

A Grande Batalha já está ocorrendo, só precisamos de uma coisa: Decidir lutar ou permanecer estagnados em nossas fraquezas, nos tornarmos guerreiros ou permanecermos como Vítimas eternas de nós mesmos.

A escolha é nossa. 



Simone Nardi

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